The following series of photographs RIO/MINE was include at Festival de Fotografia de Tiradentes 2024

The call of this festival brought together photographers with the most diverse discourses on the topic of land and was curated by Mônica Maia @momaia and Gláucia Nogueira @glaucianogueira.

Images from this series were part of the group exhibition “Como Uma Onda” curated by Joaquim Paiva and also displayed in a projection at Largo das Forras, in Tiradentes (MG), on the nights of the 8th and 9th of March 2024. 

It is always an honor to exhibit in this festival organized by @fotoempauta which has one of my first photo professors @eugeniosavio orchestrating it from behind the scenes.

 

RIO/MINE

 
 

RIO/MINE

Recrio fitas de telégrafo usadas pelo mercado de ações para representar o processo gradativo em que um rio se transformaria em uma mera sigla na bolsa de valores. Em tiras de papel repito a sigla RIO - o ticker symbol das ações da Companhia Vale do Rio Doce quando ela se tornou a primeira empresa brasileira negociada na bolsa de valores de Nova Iorque em 2002. RIO passa a significar o mesmo que uma mina. O título deste trabalho, RIO/MINE enfatiza o significado intercambiável de duas palavras sintetizando o conflito de interesses entre o Brasil e os Estados Unidos em tipografia.

Este trabalho surgiu da minha própria tentativa em entender as forças internacionais que operam a indústria da mineração em Minas Gerais. O desejo pela apropriação dos patrimônios naturais do nosso território permeiam a nossa história há séculos - desde a exploração do ouro até o minério de ferro.

Tal cobiça está aqui representada pelo uso de mapas da coleção da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos em que o território brasileiro é reproduzido. Neles, o Rio Doce está frequentemente traçado. A bacia hidrográfica do Rio Doce foi cartografada, mesmo quando o conhecimento sobre a vastidão da nossa geografia e a riqueza de nosso subsolo ainda eram incipientes. Queriam esmeraldas, diamantes, ouro e finalmente minério. Eles nos delinearam para nos despir. 

Não há gentileza alguma neste desvelar. Para representar as tamanhas sequelas e o nível de morbilidade que o solo, o ar e a água agora carregam em consequência da atividade minerária, faço intervençoes em mapas hidrográficos de Minas Gerais e insiro a imagem de uma cicatriz que carrego em meu peito após um diagnóstico de câncer. Assim, exponho a terra despida de sua imensa riqueza, mas que apesar de suas profundas sequelas, ainda em seu cerne procura a cura em cada curva de seus rios, assim como eu procuro a cura em cada curva de minhas veias.

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Profetizada em idos acordos coloniais, perpetuada em modernizadores pactos econômicos e reforçada pela gradativa capitalização estrangeira, a definitiva privatização da primeira e maior produtora de minério de ferro nacional se consumou em 1997. Mãos estrangeiras moldaram esta empresa desde seus primórdios. A Companhia Vale do Rio Doce foi criada em 1942 durante o governo de Getúlio Vargas, através de financiamento pelo governo americano e motivada principalmente pela necessidade de sustentar a participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Suas ações vêm sido negociadas no mercado financeiro desde 1943. 

Neste trabalho, o emaranhado das conflitantes necessidades econômicas internas brasileiras e os ganhos especulativos de investidores internacionais simbolicamente extravasam a moldura e se espalham pelo chão como serpentina. Não diferente das paradas em Wall Street, quando fitas de telégrafos da bolsa de valores eram jogadas pela janela em importantes comemorações nacionais. Chamadas “Ticker Tape Parades” tais celebrações são geralmente reservadas para heróis americanos como o recém-inaugurado presidente JFK, os astronautas do Apollo 11 e seletos líderes mundiais. Entre estes, três presidentes brasileiros - Júlio Prestes, Dutra e João Goulart - foram condecorados entre 1930 e 1962, comprovando o interesse americano pela política brasileira em décadas cruciais da nossa história. 

A natureza extrativista e de extremo impacto sócio-ambiental da indústria minerária culmina com a desnacionalização da Companhia Vale do Rio Doce e assim se inicia um processo cego de autofagia em relação a terra, o rio e o homem. Uma vez privatizada, os interesses de investidores e acionistas prevalecem. Como uma multinacional, a companhia viu seu valor de mercado em uma decada passar de R$7 bilhões para R$200 bilhões entre os anos de 2001 e 2010. EM suas operações em Minas Gerais portanto se desencadeia o rastro de infrações ambientais que inevitavelmente geram as incalculáveis perdas em Mariana em 2015, e em Brumadinho em 2019 - tanto de vidas, quanto de rios - em decorrência de crimes ambientais praticados pela mineradora.

Em 2009, a sigla RIO seria substituída na bolsa de valores. A maior produtora de minério de ferro mundial troca a sigla de suas ações e o nome da empresa para VALE, profetizando o inimaginável - que o Rio Doce poderia um dia desaparecer do mapa.

~ Para D.K.

De onde vieram os mapas?

Os mapas utilizados neste projeto são provenientes de uma coleção digitalizada da Biblioteca do Congresso (LOC) - a coleção “Estados Unidos e Brasil”. Uma colaboração entre a Biblioteca do Congresso Americano e a Biblioteca Nacional do Brasil. Ele arquiva as interações entre o Brasil e os Estados Unidos desde o século XVIII. A coleção The United States and Brazil: Expanding Frontiers, Comparing Cultures está em domínio público ou não tem restrições de direitos autorais conhecidas e são livres para uso e reutilização, de acordo com o site do LOC.

Fonte:

Expanding frontiers, comparing cultures libraries collaborate on U.S.-Brazilian Web Site. Expanding Frontiers, Comparing Cultures (July 2004) - Library of Congress Information Bulletin. (n.d.). Retrieved September 6, 2022, from https://www.loc.gov/loc/lcib/0407/cultures.html

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#RIOSHARES

#RIOshares é tanto uma hashtag quanto uma pesquisa no Google. Em 2009, a Companhia Vale do Rio Doce removeu o RIO de seu código de ações. Mas o monopólio da produção de minério de ferro mundial é um circulo pequeno - eles não apenas compartilham lucros e mercados em esquemas de aquisição e de apropriação, mas também trocam símbolos da bolsa de valores.

Após a VALE S.A. ter retirado o “ticker symbol” RIO de suas ações em 2009, uma das maiores mineradoras do mundo absorveu com prazer essa sigla de 3 letras para usar em suas próprias quotas. O Rio virou mais uma vez uma quota de ações.

 
 

MAIN BIBLIOGRAPHY:

Bautista Vidal José Walter. (2000). Brasil: Civilização Suicida. Ed. Nação do Sol.

Galeano, E., & Belfrage, C. (1973). Open veins of Latin America : five centuries of the pillage of a continent. New York: Monthly Review Press.

Mikesell, R. F. (1971). Foreign investment in the petroleum and Mineral Industries. Hopkins.

Moura, E., Godeiro, N., Soares, P., & Vieira, V. (2007). Vale do rio doce: Nem Tudo que reluz É ouro: Da privatizaçao à luta pela reestatizaçao. Sundermann.

Pimenta. (1981). A Vale do Rio Doce & sua história. Editoral Vega.

Ragazzi. ROCHA, Lucas Ragazzi. Murillo. (2021). Brumadinho;a Engenharia de Um Crime. EDITORA LETRAMENTO.

Silva, Marta Zorzal E., . (2004). A Vale do rio doce: Na estratégia do Desenvolvimentismo Brasileiro. EDUFES.

Wisnik. (2018). Maquinação do mundo : Drummond e a mineração (1a ed.). Companhia das Letras.


OPEN SOURCE MAPS:

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Cunha, E. A. L., Calmon, M., Gama, A., Luiz, E. D. E., Roosevelt, B. & Roosevelt, T. (1910) Carta da viação ferrea do Brasil. [São Paulo: Secção Geographica Artistica da Compa. Lith. Hartmann-Reichenbach] [Map] Retrieved from the Library of Congress, https://www.loc.gov/item/2003682784/.

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Niemeyer, C. J. D., Ponte Ribeiro, D. D. P. R. & Tourinho, M. C. (1873) Map of the Brazilian Empire. [Rio de Janeiro: publisher not identified] [Map] Retrieved from the Library of Congress, https://www.loc.gov/item/2021668361/.

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Sanson, N. (1656) Le Bresil. Paris. [Map] Retrieved from the Library of Congress, https://www.loc.gov/item/2003627080/.


AJUDE OS KRENAK @institutosdk


O desastre de 5 de novembro de 2015 em Mariana, Minas Gerais é até hoje o maior crime ambiental da história do Brasil e o maior do mundo envolvendo uma barragem de rejeitos. O 7º aniversário do desastre está aqui e os danos imensuráveis ​​que ele desencadeou sobre aqueles que dependem do Rio Doce são desesperadamente palpáveis.

Por causa das águas infestadas de metais pesados: os principais municípios ao longo das margens do rio precisam monitorar seu abastecimento de água; as aldeias de pescadores não podem mais se alimentar do peixe; e a principal comunidade indígena da bacia hidrográfica do Rio Doce - o povo Krenak - tem que contar com a entrega de alimentos e caminhões pipa para sua sobrevivência; e a cultura, espiritualidade e modo de viVer do povo krenak que sempre foram connectados ao Rio doce estão ameaçados.


Shirley Djukurnã Krenak pertence ao povo indígena Krenak do leste de Minas Gerais, Brasil. Desenvolve trabalhos terapêuticos ancestrais voltados para a cura e para o despertar do ser humano. É professora atuando em parceria com escolas públicas e privadas da região, assim como as universidades e Centro Sócioeducativos. Atualmente está coordenando a construção do “Instituto Shirley Djukurnã Krenak”.

 

FOR INTERNATIONAL DONATIONS:

Citation: Jordi Goya. (2019). INTERVIEW TO SHIRLEY DJUKURNÃ KRENAK Leader, Writer, Social Worker, Environmentalist. Retrieved September 29, 2022, from https://www.youtube.com/watch?v=X1-Biwhps8U&t=2s.

PARA doações FEITAS NO BRASIL:


Use a hashtag #RIOSHARES para postar imagens do Rio Doce. Compartilhe imagens do passado para que não esqueçamos o rio que perdemos; e tambem para compartilhar imagens de como o rio e suas águas, fauna e flora se encontram hoje. Desta forma os impactos ambientais que permeiam toda a bacia hidrográfica do Rio Doce não podem mais ser contestados.

COMPARTILHE O RIO. QUE TODOS SAIBAM.